De um lado, um amor é uma história de respeito à liberdade do outro. De outro lado, é uma busca contínua de fazer respeitar a própria liberdade.
A relação entre pessoas que não consideram essas delicadezas levam Sartre a dizer, pela boca na personagem Garcin.
“Vocês se lembram: o enxofre, a fogueira, as grelhas... do inferno? Ah, que brincadeira. Não há necessidade de grelhas: o inferno são os outros!”
Contudo essa visão pessimista não apresenta o conjunto da obra do filófoso: foi uma fase.
Sartre percebe que querer ser amado é tentar assimilar a liberdade de outrem, sujeitando-a à própria liberdade. Mas, ao mesmo tempo, ninguém quer ser amado só porque o outro lhe fez um dia de promessa: “Amo você porque me comprometi e não quero voltar atrás na minha palavra”. Do mesmo modo, ninguém admite ser verdadeira uma relação semelhante à que se teria com aquelas bonecas infláveis que aparecem no cinema. São usadas e depois vão para a caixa. Esvaziadas.
Todos queremos também o risco renovado da possibilidade de não ser amado. Nós somos assim mesmo. Gostamos do risco e da ambiguidade.
Tendemos a rejeitar o amor que admite ser sempre um objeto passivo para nós. Por isso ninguém constrói uma relação saudável com o amor que o quer escravo. Além de tudo, ficamos sempre no sobressalto de que esse amor pode também escapar de nós.
No amor è inevitável esse conflito entre a tendência de transformar o outro em objeto e a de se deixar ser objeto. Esse conflito é saudável, pois mantém o equilíbrio da relação afetiva.
(Fernando José de Almeida, Op. cit, p. 21)
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